terça-feira, maio 27

- A imagem mais bonita do Rio, pra mim, é a favela durante a noite. Aquele amontoado de pontos luminosos invadindo o morro, enche os olhos. Parecem até grandes árvores de natal, ali, o ano todo. Os presentes, você desembrulha nas esquinas.

- E a imagem mais triste da F1 depois do carro batido do Senna, foi o Sutil chorando nesse fim-de-semana. Ele, o último do ranking, conseguindo chegar em quarto. Só o gp de Mônaco pra possibilitar isso. Mas aí vem, o glorioso homem-de-gelo, com uma demonstração clara de que não é bom piloto, perde o controle do carro e bate na traseira do Sutil. Merda hein, Raikkonen.

- Essa semana começa a mostra da filmografia do Altman e tem a semana ABC. Lucrécia foi vaiada em Cannes, viram? O que me deixa em parte feliz, já que Maria Antonieta também foi. Claro, por razões diferentes. Nem se deve comparar as duas. Eu o façio frequentemente.
Inclusive, revi hoje La Niña Santa. Oi blog.

sexta-feira, maio 16

filmes de abril

Por ordem da data em que foram vistos:

Dust in the Wind
(1986), de Hou Hsiao-Hsien - 3/5, os que já viram mais HHH dizem que este filme é um 'menor' dele. O meu pouco contato com a obra do cineasta, não me deixa de escapar de uma percepção parecida. O curioso é que, diferente da grande maioria dos cineastas, não é aqui que se encontra um olhar mais ingênuo, ou primário. Parece que é no decorrer da obra dele que tal característica aflora, uma busca por um olhar novo a cada filme. Nesse filme me pareceu que ele tinha mais certeza quanto ao que mostrava e ao que contava, talvez daí resida a idéia de um filme menor de HHH. Mas ainda assim, não deixa de ser uma bela obra, de uma delicadeza com seus personagens, um deleite visual.

Café Lumiere (2003), de Hou Hsiao-Hsien - 5/5, e foi aqui que me afiliei a obra dele. Um jogo belíssimo com o olhar e a percepção do espectador. Numa época em que tanto leio sobre o olhar "esgotado" do cinema, é revigorante ver como este cineasta percorre o caminho contrário, não precisa jogar com a forma para provar que um olhar novo e curioso sobre as coisas ainda é possível.

O Assassinato no Expresso Oriente (1974), de Sidney Lumet - 3/5. Para uma leitora antiga de Agatha Christie, essa obra me deixou contente. É uma boa adaptação do universo e da atmosfera única da autora inglesa. O filme não vai muito além da obra, e nem por um momento considero isto um desmérito. Mas ainda está longe de ser um Lumet que me arranque o fôlego.

Além dos Trilhos (2003), primeira parte, de Wang Bing - 4/5. Esta primeira parte do filme (que já toma 5 horas de cadeira em frente à projeção) é de deixar impressões surpresas (ou no mínimo, curiosas). O que ele consegue criar da relação com a câmera e seus personagens, é incrível (não conseguiria aqui achar melhor adjetivo). Os personagens mostram suas vidas e seus corpos para a camereta de Bing, sem nenhum pudor. Sobre a temática e maneira de se lidar com ela, devo concordar com Walter Salles e dizer que lembra muito Jia Zhang-ke. Mas ali, em WB, há uma dureza maior, uma sinceridade mais ríspida. Isso também muito parece devido à qualidade das imagens, tantas vezes tão escuras que nos obrigamos a nos identificar com contornos de personagens.

Estamos bem mesmo sem você (2006), de Kim Rossi Stuart - 4/5. Um dos melhores dramas familiares que já tive contato. Um roteiro sem desculpas, sem gratuidades, com personagens que vão além dro crível: são duros e honestos com sua natureza, tal qual é o ambiente em que se encontram (a casa escura e desorganizada da família, o perigoso telhado em que o menino se esconde, com sua frágil paisagem). Atenção para a montagem e para a cena em que o personagem do pai opera a steady-cam.

Tambaú, Cidade dos Milagres (1955), de Ozualdo Candeias - 4/5. É difícil dizer desse filme. Pareceu-me tão paradoxais as intenções de Ozualdo ao filmar o povo que migrava à Tambaú em busca de curas milagrosas. Talvez a intenção fosse parecer ambíguo mesmo; talvez nem ele soubesse o que achar daqueles olhares desesperados em corpos debilitados, de esparanças fervorosas. É difícil, mas é belo. É frenético. Depois eu diria: "é Candeias", já que é tudo que meu analfabetismo conseguiu extrair de minhas sensações.

Polícia Feminina (1960), de Ozualdo Candeias - 2/5.

Ensino Industrial (1962
), de Ozualdo Candeias - 2/5.

Rodovias (1962
), de Ozualdo Candeias - 2/5. Três curtas por encomenda, institucionais. A polícia feminina retratada com bravura e ao mesmo tempo com aquele doce estereótipo de feminilidade. As maravilhas de se estudar numa escola industrial, onde já se sai formado com ofício. As novas rodovias de São Paulo. A experiência desses três filmes foi engraçada. Até flash (ou algo muito próximo) aparece ali. É difícil imaginar o cineasta irreverente de "A Margem", fazendo algo assim. Só vendo para entender - e para crer. Aqui uma ressalva para a restauração da cinemateca, onde nitidamente se ofereceu um contraste que não deveria estar no original.

A Margem (1967), de Ozualdo Candeiras - 5/5. O máximo de Candeias. Seu desafio à forma e à narrativa, com seus personagens sem lugar no mundo. As margens do Tietê como palco para a dor humana, A mais bela face da Morte.

O Perigoso Adeus (1973), de Robert Altman - 3/5. Meu primeiro Altman. Bizarríssimo. Esqueci o nome do ator principal (e não tenho saco para buscar agora), mas ele me lembrou muito o Kramer de Seinfeld, e isso me tirou boa parte da atenção. É um roteiro fechadinho, com aquela primeira exposição genial, onde se conta tudo nos primeiros dez minutos de filme.

A Herança (1971), de Ozualdo Candeias - 4/5. Eis um deasfio que eu achava impossível de ver com bom resultado: Hamlet de Shakespeare, adaptado para a modernidade, localizado no interior brasileiro. Ozualdo o faz com genialidade, onde os personagens muitas vezes cacarejam ao invés de falar.

O Acordo (1968), de Ozualdo Candeias - 3/5. Loucura. Um tira-gosto como exemplo: depois que a virgem é levada para o senhor das profudenzas (ou algo assim) por sua mãe, ele resolve dançar disco com ela, lá dentro da caverna, rodeado por criaturas peitudas e bigodudas. Queria ver o episódio do Zé do Caixão.

Aopção (1978), de Ozulado Candeias - 5/5. O árduo caminho daquelas que se tornam prostitutas às beiras das rodas dos caminhões. Ainda não fui capaz de digerir esse filme. Duvido que um dia o seja.

O Desprezo (1963)*, de Jean-Luc Godard - 5/5. Fazia muito da vez em que assisti a esse Godard. E não sei dizer em qual das vezes a experiência foi mais forte. Nada como uma Bardot dissecada.

Boarding Gate (2007), de Olivier Assayas - 4/5. Dessa vez não me venham dizer que é um Assayas menor. Não é "Clean", mas é Assayas em sua melhor forma. Talvez a melhor e mais plausível heroína de filme de ação. E aquela câmera que só ele alcança, que dança com seus personagens, não como um ballet, mas como a mais desconstruída dança contemporânea. O desfoque, os movimentos ágeis, os jump cuts, a proximadade com aquilo que está sendo filmado, me fazendo prender a respiração diante da câmera delirante e exaltada própria de seus filmes.

* - revisto.

E esse mês temos uma mostra Jacques Demy que inicia hoje (e que vai valer a pena especialmente pelo filme da Varda sobre ele) e também uma mostra do Altman. Há rumores sobre uma possível mostra do Garrel para o mês que vem, delícia hein?
Mas o que eu queria era presenciar a estréia do novo da Martel. Agonia da espera vai me enlouquecendo aos poucos.
De novivdade, apreciem a nova revista eletrônica de cinema, lá do pessoal do curso da UFSC: www.punctum.ufsc.br
E reclamem das minhas impressões engolidas.