segunda-feira, outubro 8


Nessa madrugada vi pela primeira vez Onde jaz o teu sorriso?, filme de Pedro Costa, onde acompanhamos parte do processo de montagem do filme Gente da Sicília, do casal Huillet-Straub. É um filme sobre o respeito com o cinema (e como os dedos de Huillet são delicados com a película), sobre a bonita e sensível e também tempestuosa relação do casal, mas é também sobre a eloquência de Straub e a sobriedade de Huillet, e de como é rica (e divertida) essa parceria cinematográfica, que nasceu do amor pelo outro, do amor pelo cinema. Straub narra o início de sua relação com Huillet e suas lembranças de cinema no mesmo tom de paixão; inerente, inseparável. Sou brega e acho isto lindo. Da cena final nem consigo escrever, as lágrimas de antes me impediram de ser o mínimo coerente. Gosto das palavras do Bragança:

"Porque em algum lugar nos olhos ausentes de Huillet, sua montadora, sua montadora (acima de tudo!!), Straub parece saber: o filme está acontecendo. Do jeito que ele queria. Do jeito que ela queria. Embora ele continue insatisfeito e irritado... Porque ela e está lá, dentro da sala, para ver (e lhe mandar calar por um instante)".


Mas o que mais me emocionou no filme, foi observar a deferência com que tratam o processo de montagem, com que tratam o filme. Chega ao nível do absurdo a precisão que Huillet busca, os significados que Straub tenta encontrar para cada ruído e piscadela. Eles me fazem ter vergonha de dizer dos meus sentimentos pelo Cinema, pois aquilo sim é paixão; mas, ao mesmo tempo, me fazem amar ainda mais essa arte, amar a paixão deles, amar esse cinema que fazem - e que não se encontra acesso. Um amor platônico esse meu. Derivando diretamente da idéia de Platão, um amor que não se baseia em um interesse trivial, mas nas virtudes.

E se há um cinema virtuoso, esse cinema é o de Huillet e Straub.

Um comentário:

Anônimo disse...

tá, me convenceu. vou assistir esse filme.